quinta-feira, 22 de julho de 2010

Apneia Obstrutiva do Sono - AOS


O ser humano passa aproximadamente 1/3 de sua vida dormindo e o sono é uma condição imprescindível para que possamos ter uma boa saúde e desfrutar melhor a vida. O sono tem a função de recuperar o organismo depois do chamado período de vigília que ocorre quando permanecemos em atividade, ou seja, acordados. Entretanto, não é a quantidade de horas dormidas, e sim a qualidade do sono a grande responsável pela nossa recuperação.

Pessoas portadoras de distúrbios do sono apresentam um quadro potencialmente incômodo: o ronco. O ronco durante o sono causa um problema de convivência social e familiar. Também é motivo de grande número de queixas nos consultórios médicos. O ronco ainda pode ser muito mais do que um sério incômodo, sendo um sinal de um dos mais graves distúrbios do sono relacionados à respiração, que é a Apneia Obsrutiva do Sono.

O que é Apneia?

Apneia é uma interrupção da respiração durante o sono por pelo menos 10 segundos. É muito comum ser relatada por alguém que durma ao lado da pessoa. A pessoa que vê a outra em apneia descreve que a pessoa repentinamente para de respirar e acorda assustada. Esse susto é a reação do sistema nervoso central à falta de oxigênio no cérebro. O típico paciente com a síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) é homem, com pressão alta, acima do peso, mais de 40 anos e, em geral, portador de uma grande circunferência do pescoço.

O fator de risco mais importante é, sem dúvida, a obesidade. O que acontece na obesidade é uma redução do “espaço aberto” da orofaringe devido à deposição de gordura ao seu redor e alterações no centro respiratório. Estudos epidemiológicos mostram que a SAOS é prevalente na população, e frequentemente não é diagnosticada. Mais de 10% da população com idade superior a 65 anos apresenta apneia obstrutiva do sono. Embora menos comum, as crianças também podem apresentar apneia do sono. Nem sempre as pessoas que desenvolvem apneia são obesas. Características anatômicas do queixo e da mandíbula também podem causar a apneia em algumas pessoas.

Como acontece a apneia obstrutiva do sono?

Durante o sono, há uma redução do tônus da musculatura da garganta que, mesmo em pessoas normais, provoca uma redução do espaço para a passagem de ar e aumento da resistência das vias aéreas.
A apneia obstrutiva do sono acontece em consequência de um estreitamento ou colapso da via aérea superior (faringe) em um ou mais pontos durante o sono. Quando as estruturas da garganta são grandes demais, ou os músculos relaxam demais durante o sono, ou há diminuição do espaço para passagem de ar (obesidade), a passagem de ar pode ser parcialmente bloqueada. Se o ar ainda consegue ultrapassar esse bloqueio, ocorre uma vibração das estruturas da garganta, o que produz o som característico do ronco, que é tão pior quanto maior for o bloqueio à passagem do ar.

Se houver um bloqueio completo da passagem do ar, ocorre a apneia, e o ar não consegue chegar aos pulmões. Como são os pulmões os locais de troca gasosa e oxigenação do sangue, se não chega ar novo aos pulmões, não há troca gasosa. Começa a ocorrer então uma hipoxemia (redução de oxigênio) e hipercapnia (aumento de gás carbônico). O cérebro então manda uma mensagem ao corpo para que ele acorde, e por este motivo o paciente passa a apresentar repetidos despertares durante o sono, o que torna o sono superficial e também fragmentado.

Quais são as causas da apneia obstrutiva do sono?

Várias causas provocam um estreitamento ou oclusão da passagem de ar através das vias aéreas superiores. Podemos citar como mais comuns:
* Obesidade;
* Aumento do tamanho das amígdalas;
* Alterações na estrutura craniofacial, como micrognatia, síndrome de Down, acromegalia, etc;
* Uso de álcool, que causa um maior relaxamento da musculatura faríngea;
* Tabagismo, que causa um edema (inchaço) das vias aéreas;
* Tumores nas vias aéreas superiores;
* Hipotireoidismo;
* Refluxo gastroesofágico;
* Falta de coordenação dos músculos respiratórios.

Quais são os sinais e sintomas sugestivos da apneia obstrutiva do sono?

* Roncos;
* Apneia presenciada por alguém;
* A pessoa pode referir “crises de pânico noturno” ou “acordar com sensação de afogamento”;
* Obesidade;
* Hipertensão;
* Sonolência diurna excessiva;
* História familiar de apneia do sono;
* Sono que não faz a pessoa descansar;
* Diminuição da memória e/ou atenção;
* Alterações de comportamento;
* Dor de cabeça pela manhã.

Quais são as consequências da apneia obstrutiva do sono?

A repetição dos eventos citados pode levar a uma série de complicações. Os frequentes despertares, muitas vezes curtos e nem percebidos pelos pacientes, alteram o sono normal e podem reduzir o sono de ondas lentas, que é considerado o período mais reparador do sono e acontece principalmente durante a primeira metade na noite. As consequências disso são: sonolência diurna excessiva, cansaço, dificuldade de permanecer acordado durante atividades em que não se exige um esforço físico, pior performance em testes neuropsicológicos, irritabilidade, redução da qualidade de vida, depressão e redução da libido.

Muitas pessoas com apneia morrem por acidentes automobilísticos ou sofrem, durante suas vidas, por algum acidente ocupacional. Além disso, o paciente pode apresentar consequências cardiovasculares, porque o coração também sofre com a falta de oxigenação. As consequências cardiovasculares mais comuns são aumento da pressão arterial, o que gera hipertensão, arritmias cardíacas, doença coronária, infarto e acidentes vasculares encefálicos (mais conhecidos como acidentes vasculares cerebrais, AVCs). Além disso, algumas doenças como o mal de Parkinson, por exemplo, aparecem mais cedo nos apneicos.

Como é feito o diagnóstico da apneia do sono?

O diagnóstico da AOS é baseado em características clínicas e na evidência de distúrbio do sono em monitorização, que é essencial para o diagnóstico. Essa monitorização é feita através de um exame chamado polissonografia, que é o melhor método para o estudo do sono. Este exame permite avaliar a atividade elétrica cerebral, a movimentação ocular, o padrão dos batimentos cardíacos, o esforço respiratório, o movimento da pernas, a saturação de oxigênio no sangue, a quantidade de sono, sua eficiência, distribuição e duração de seus estágios, a fragmentação do sono, distúrbios respiratórios associados, além de outros parâmetros.

Como é o tratamento da apneia do sono?

Para decidir sobre o tratamento, o médico considera os sintomas associados e as consequências cardiopulmonares, não apenas o número absoluto de apneias (interrupção da respiração durante o sono por pelo menos 10 segundos) e hipopneias (redução do fluxo aéreo de pelo menos 50% ou redução menor que 50% associada a uma queda do nível de oxigênio no sangue ou evidência de despertar na polissonografia). O objetivo do tratamento é estabilizar a ventilação e a oxigenação durante a noite, abolir o ronco e corrigir o sono fragmentado. Todos os pacientes são orientados a mudar hábitos que facilitem a obstrução das vias aéreas, da seguinte forma:

* Dormir de 7-8 horas por noite, e não virar noites em claro;
* Não usar álcool e outras drogas, como sedativos e hipnóticos;
* Os pacientes obesos devem perder peso;
* Evitar dormir de barriga para cima, preferir a posição lateral.


O tratamento de escolha é o uso de máscara (CPAP - Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas - Foto) conectada a um compressor de ar que faz uma pressão positiva na via aérea, forçando a passagem do ar através das vias aéreas. O tratamento com CPAP é efetivo na abolição da apneia, dessaturações, melhora da sonolência e cansaço, melhora os níveis de pressão arterial e da disfunção cardíaca. A aderência dos pacientes ao tratamento com a CPAP ainda é o maior problema. De 30 a 50% dos pacientes não adere ao uso da máscara.

Segundo a Academia Americana de Medicina do Sono (AASM), o tratamento cirúrgico está indicado para pacientes que apresentem alterações anatômicas específicas, corrigíveis cirurgicamente, desde que essas alterações sejam a causa da apneia, e em casos de falha no tratamento com a CPAP em pacientes que tenham condições de serem submetidos a uma cirurgia. As cirurgias mais indicadas são a uvulopalatofaringoplastia, que consiste na resecção da úvula, partes do palato mole e amígdalas, as cirurgias maxilofaciais e a traqueostomia, em último caso. Outras opções são os dispositivos orais, que possibilitam o avanço da mandíbula e a sustentação da língua, indicados para pacientes com síndrome da apneia obstrutiva do sono leve que não responderam às terapias comportamentais (como perda de peso ou mudança de posição ao dormir).

7 comentários:

  1. Eu uso um dilatador nasal é muito bom me ajuda a dormir melhor

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  2. É SAHOS ou SAOS mas AOS não está correto

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  3. Olá Pedro

    A AOS está correto sim, pelo menos quando postei no Blog estava, rsrs. A SAHOS e a SAOS, provavelmente, são novos termos dados à doença, pois a nomenclatura vive em constante atualização.
    Mas, muito obrigada pela observação.

    Abraço

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  4. Baseado em literatura médica o uso de dilatador nasal para SAHOS não serva para nada, a não ser para encher o bolso do fabricante. O correto é uma avaliação com especialista.

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  5. Olá Jeziel
    Sim, em qualquer problema o ideal é uma avaliação de um médico especialista para rever cada caso e indicar a melhor terapia.
    Na prática, já vi muitos pacientes que melhoraram com o uso do CPAP. Nem sempre a literatura acerta, lembre-se disso.
    No entanto, há restrições para o uso do CPAP, pois ele causa a longo prazo, alguns efeitos colaterais.
    Sendo assim, uma avaliação com um médico especialista é sempre o mais aconselhável.
    Abraço

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  6. Cris, o colega falou sobre o uso de dilatadores nasais para tratamento de SAOS, esses realmente pouco ou nada ajudam. Ja o CPAP sim, padrão ouro no tratamento, mas sempre com avaliação ~médica ok?

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  7. Ah, e AOS é Apneia obstrutiva do sono, Já SAOS é a doença, Sindrome da Apneia Obstrutiva do Sono. SAHOS era o nome antigo (Sindrome da Apneia e Hipopneia Obstrutiva do Sono) e não~´e mais usado.

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